Obsolescência programada é um termo utilizado muito mais frequentemente no universo da tecnologia. Quando ficou claro que determinados produtos - como computadores e celulares - eram construídos de modo a durar no máximo dois anos, o mundo entrou em choque. Mas pouca gente se questionou, na época, se outros itens do cotidiano também tinham a obsolescência como "ponto de partida". Os móveis, por exemplo. Quantas horas de uso deve durar um sofá? E uma estante? Durante a Maison & Objet, feira que acontece em versão 100% digital em setembro de 2020, entre as empresas apresentadas, uma delas já nasceu com essa preocupação: a Dizy Design. Fundada pelos designers e empreeendedores Vianney Sauvage et Augustin Poncelet, ela teve parte de seu business plan aberto durante um talk. Os fundadores explicaram como era possível fazer algo rentável e consciente.
Princípios da DIZY DESIGN:
1) Garantia de durabilidade:
Três elementos podem fazer um produto durar mais tempo: 1) seus materiais 2) suas formas e construção 3) possibilidade de troca de peças ao longo do tempo
- Materiais duráveis: as peças são todas de madeira e metal. As partes estruturais são em carvalho maciço e os tampos são em compensado de bétula, revestidos com folha de carvalho (antes que você se pergunte a procedência dessa madeira, abaixo você descobrirá). O metal, com possibilidade de reciclagem infinita e robustez, também tem procedência consciente, como se verá abaixo.
- Formas e construção: Toda a produção das peças em madeira é feita por uma única empresa familiar portuguesa, com 50 anos de tradição local. Já as peças em metal são trabalhas por uma equipe francesa com os mesmos critérios de atenção aos detalhes. Essas duas empresas possibilitam um enorme controle de qualidade na construção dos móveis. Além disso, o desenho de cada um dos itens da coleção leva em conta inúmeros testes de fragilidade. Outro importante ponto (que quase não levamos em consideração) é a forma arredondada de praticamente todos os móveis. Segundo os fundadores da Dizy Design, esse acabamento arredondado traz muito mais durabilidade às peças, pois a ausência de arestas e quinas diminui possibilidade de choques que levam ao desgaste. E isso facilita o transporte de longas distância ou o deslocamento das peças dentro de casa.
- Peças de reposição: esse princípio leva o consumidor a entender que, caso o móvel sofra danos, é possível trocar apenas a peça com problema. O mesmo princípio permite que o consumidor renove o seu móvel substituindo alguns dos detalhes - com novas cores, por exemplo. As peças de reposição podem ser encontradas no próprio site da empresa.
2) Garantia de sustentabilidade:
A madeira vem de florestas com gestão sustentável e possui certificação FSC e PEFC. Uma das preocupações é que o transporte envolvido em toda a cadeia seja controlado - por isso, fontes de materiais mais próximos dos estúdios onde a madeira e o metal serão trabalhados são preferidas.
Outro ponto importante para a Dizy: usar material 100% reciclável. Eventualmente, quando se faz necessário algum item de outro material como tecido, plástico ou papel (para as embalagens, por exemplo), tudo é necessariamente reciclado. Os designer fazem ainda as peças sob medida para que se use o mínimo possível de embalagem e para que, desmontado, o móvel possa ser colocado com facilidade sobre um único palete. Finalmente, como auto-desafio, a empresa se propõe a aumentar a cada vez mais a oferta de produtos que façam parte dos conceitos da economia circular.
3) Garantia de uso múltiplo dos móveis
Algumas das peças da coleção podem ser montadas de forma diferente. Assim, uma mesa pode ser montada como uma estante, por exemplo. Há também móveis componíveis para múltiplas formas de usar. Com isso, uma mesma peça acompanha a família e a casa por diversos anos assumindo muitas funções.
Finalmente, não como princípio, mas como possibilidade, a Dizy pode fazer edições limitadas de suas peças, usando material de demolição ou que seria descartado. É o caso das 78 mesas feitas com parquet de madeira, provenientes de uma grande demolição de armazéns de logística. O trabalho foi realizado em parceria com a La Maillerie, grupo que planificou a reconstrução do bairro, onde se encontravam os galpões.
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Com todas essas características, é de se esperar que a produção não seja em grande escala. Isso significa um novo modo de trabalhar, uma nova concepção empresarial. Preços altos. Clientes engajados nas mesmas causas dispostos a pagar mais por isso. Para nós, brasileiros, não é sequer uma opção de compra - pois, exportar para longas distâncias não está hoje nos planos da empresa. Você terá uma peça deles apenas se viajar e trouxer na mala. Mas...é uma inspiração. E talvez um modo muito bem casado com o novo tradicional - onde ir para a frente significa, necessariamente, observar o que dava certo lá atrás no jogo.
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